Para alguns educadores alfabetização é a aquisição do sistema alfabético de escrita; outros, um processo pelo qual a pessoa se torna capaz de ler, compreender o texto e se expressar por escrito.
Paulo Freire responde através de uma carta a pergunta: para que alfabetizar?"[...] para que as pessoas que vivem numa cultura que conhece as letras não continuem roubadas de um direito – o de somar à 'leitura' que já fazem do mundo a leitura da palavra, que ainda não fazem". (FREIRE apud BARRETO apud MORAES, 2005)
A escola deve começar a ler para os alunos o mais cedo possível. Para os de família de baixa renda, está a cargo do professor provocar situações desse tipo, de que os outros dispõem desde que nascem. "A alfabetização não é um luxo nem uma obrigação; é um direito" (FERREIRO apud MORAES, 2005). O ensino inicial da leitura deve assegurar a interação significativa e funcional da criança com a língua escrita. Propiciar essa interação implica a presença incluída do escrito na aula, nos livros, nos cartazes que anunciam determinadas atividades, nas etiquetas que tenham sentido.
Implica, sobretudo, que os adultos encarregados na educação das crianças usem a língua escrita, quando for possível e necessário, diante delas, fazendo-as compreender, assim, seu valor comunicativo. Implica também realizar atividades que fomentem o prazer de ler (como ler para as crianças) e que permitam experimentar o poder da leitura para transportar-nos a outros mundos reais ou imaginários.
É importante desenvolver na escola projetos de leitura, pois; ao contar uma história para uma criança, tem-se a oportunidade de compartilhar emoções, despertar o prazer de escutar o outro e de estar em convivência com o grupo. Ao ouvir uma história, pode-se fazer e refazer, produzir e reproduzir, no sentido de reconstruir imagens na mente, imagens do passado, estimular a criatividade.
Infelizmente hoje a alfabetização passa numa lógica contrária.
"A alfabetização vem percorrendo caminhos [...] em que a leitura passou de elemento propulsor para elemento colaborador, substituindo o conceito de alfabetizar como ensinar a ler pelo de alfabetizar como ensinar a escrever, e a concepção de avaliação através de testes de leitura pela de avaliação através de testes de escrita. Nesse percurso, os livros para aprender a ler deram lugar a sucessivas folhas de exercícios que muitas vezes reproduzem em parte as páginas que neles havia". (ROSA; PEREIRA, 2008, p.48)
Muitas coisas que aprendemos na escola são esquecidas com o tempo, pois não a praticamos, através da leitura rotineira tais conhecimentos se fixariam de forma a não serem esquecidos posteriormente. Dúvidas que temos ao escrever poderiam ser sanadas pelo hábito de ler, talvez nem a tivéssemos, pois a leitura torna nosso conhecimento mais amplo e diversificado.
As avaliações nacionais de 2003 evidenciam um percentual de 55,4% de alunos que apresentam problemas sérios de leitura, sendo que 18,7% deles foram classificados no nível 'muito crítico' (BELINTANE, 2006).
Devido a esses dados, a inserção da leitura, no contexto escolar, deve ser de forma dinâmica e agradável, utilizando e, por exemplo, do caráter lúdico que pode ser dado às estratégias de leitura. Dessa forma, enquanto o aluno "aprende a ler", estará, ao mesmo tempo, desenvolvendo a sua noção de 'ser social', integrado num contexto ético e crítico.
O gosto de ler, portanto, será adquirido gradativamente, através da prática e de exercícios constantes. Nesse caso, o professor, sendo o principal agente no processo de melhoria da qualidade do ensino, poderá realizar uma série de atividades que favoreçam a aproximação do educando com a leitura, pois ela é a condição essencial para o bom desempenho da linguagem oral e escrita.
Sabe-se, também, que a escola tem papel fundamental na construção da identidade e da autonomia de cada aluno. Por isso, faz-se necessário, trabalhar não apenas leitura, mas todas as leituras que se apresentam no nosso dia-a-dia. Nas escolas em que circulam diversos tipos de textos, os alunos leem e escrevem mais rapidamente e se tornam capazes de buscar as informações de que necessitam.
Segundo Paulo Freire a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra (FREIRE, 1989). Aprendemos a ler o mundo antes mesmo de decodificar os sinais gráficos das letras. Assim, ler o mundo é tão importante quanto ler a palavra. A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Assim as palavras do povo, vinham através da leitura do mundo. Depois voltavam a eles, inseridas no que se chamou de codificações, que são representações da realidade. No fundo esse conjunto de representações de situações concretas possibilitava aos grupos populares uma "leitura da leitura" anterior do mundo, antes da leitura da palavra. O ato de ler implica na percepção crítica, interpretação e "re-escrita" do lido.
Em outras palavras Freire entende que se um texto só pode ser lido se o reescrevemos, o mesmo ocorre com a leitura da realidade. Para ele, não lemos apenas as palavras, os textos e os livros; lemos o mundo, isto é, tudo aquilo que está ao nosso redor. O mundo em que vivemos é um texto que exige uma leitura mais crítica. A leitura realmente passa a ter sentido quando lemos a realidade, a partir de nossos interesses e necessidades, para nos transformar e transformar o mundo.
O hábito da leitura é de extrema importância na formação intelectual do indivíduo, pois através dela, cria-se o espírito crítico-social. Ensinar a ler e escrever é alfabetizar, levar o aluno ao domínio do código escrito, isso feito principalmente na sala de aula, pois a mesma é o lugar da criação de um vínculo com a leitura.
O hábito de ler ou contar histórias constitui um precioso instrumento para o relacionamento, trata-se de um momento de aproximações, descontração e trocas. A leitura passa a ter uma importância muito grande, pois favorece as relações afetivas entre alunos e professores propiciando um momento de maior aproximação. Entre eles:
·Possibilita ampliação de vocabulário, organização de pensamento numa seqüência lógica (começo, meio, fim).
·Estimula a fantasia e a criatividade, desenvolvendo a imaginação.
·Ajuda a criança a elaborar e refletir sobre seus medos, ansiedades e perdas.
·Ajuda a criança a ter um posicionamento crítico, responsável e construtivo nas diferentes situações sociais, participando nas mediações de conflitos e nas decisões coletivas.
·Melhorar a utilização da linguagem para aperfeiçoar a qualidade de suas relações pessoais, sendo capaz de expressar seus sentimentos, idéias e opiniões, relatar experiências, acolhendo, interpretando, considerando e respeitando os diferentes modos de falar.
Aprende-se a ler vendo outras pessoas lendo, prestando atenção às leituras que o professor realiza oralmente, tentando ler, experimentando e errando, em um processo cujo resultado inicial será seguramente menos convencional do que o esperado, mas não muito diferente do que se produz com outras aprendizagens.
Atualmente, damos valor ao mercado de carros, computadores, petróleo, bolsa de valores, mas não percebemos que o mercado da leitura e da inteligência é de primordial importância. Devido a isto, é de suma importância desenvolver em nós uma "cultura de leitura", pois só assim seremos aprendizes e formadores de opinião em todo ambiente social e democrático que estivermos.
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